Liturgia

26 de Março

V Domingo da Quaresma – Ano A

MISSA


ANTÍFONA DE ENTRADA Salmo 42, 1-2

Fazei-me justiça, meu Deus,
defendei a minha causa contra a gente sem piedade,
livrai-me do homem desleal e perverso.
Vós sois o meu refúgio.
Não se diz o Glória.

 

ORAÇÃO COLECTA
Senhor nosso Deus, concedei-nos a graça
de viver com alegria o mesmo espírito de caridade
que levou o vosso Filho a entregar-Se à morte
pela salvação dos homens.
Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho,
que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

LEITURA I Ez 37, 12-14
«Infundirei em vós o meu espírito e revivereis»

Leitura da Profecia de Ezequiel
Assim fala o Senhor Deus: «Vou abrir os vossos túmulos e deles vos farei ressuscitar, ó meu povo, para vos reconduzir à terra de Israel. Haveis de reconhecer que Eu sou o Senhor, quando abrir os vossos túmulos e deles vos fizer ressuscitar, ó meu povo. Infundirei em vós o meu espírito e revivereis. Hei-de fixar-vos na vossa terra e reconhecereis que Eu, o Senhor, digo e faço».
Palavra do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL Salmo 129 (130),1-2.3-4ab.4c-6.7-8 (R. 7)
Refrão: No Senhor está a misericórdia
e abundante redenção. Repete-se
Ou: No Senhor está a misericórdia,
no Senhor está a plenitude da redenção. Repete-se

Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor,
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam os vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica. Refrão

Se tiverdes em conta as nossas faltas,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão,
para Vos servirmos com reverência. Refrão

Eu confio no Senhor,
a minha alma espera na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor
mais do que as sentinelas pela aurora. Refrão

Porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há-de libertar Israel
de todas as suas faltas. Refrão

LEITURA II Rom 8, 8-11
«O Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos
habita em vós»

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos: Os que vivem segundo a carne não podem agradar a Deus. Vós não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, não Lhe pertence. Se Cristo está em vós, embora o vosso corpo seja mortal por causa do pecado, o espírito permanece vivo por causa da justiça. E se o Espírito d’Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo Jesus de entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós.
Palavra do Senhor.

ACLAMAÇÃO ANTES DO EVANGELHO Jo 11, 25a.26
Refrão: Louvor e Glória a Vós, Jesus Cristo, Senhor. Repete-seR01;

Eu sou a ressurreição e a vida, diz o Senhor.
Quem acredita em Mim nunca morrerá. Refrão

EVANGELHO – Forma longa Jo 11, 1-45
«Eu sou a ressurreição e a vida»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, estava doente certo homem, Lázaro de Betânia, aldeia de Marta e de Maria, sua irmã. Maria era aquela que tinha ungido o Senhor com perfume e Lhe tinha enxugado os pés com os cabelos. Era seu irmão Lázaro que estava doente. As irmãs mandaram então dizer a Jesus: «Senhor, o teu amigo está doente». Ouvindo isto, Jesus disse: «Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho do homem». Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro. Entretanto, depois de ouvir dizer que ele estava doente, ficou ainda dois dias no local onde Se encontrava. Depois disse aos discípulos: «Vamos de novo para a Judeia». Os discípulos disseram-Lhe: «Mestre, ainda há pouco os judeus procuravam apedrejar-Te e voltas para lá?». Jesus respondeu: «Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. Mas, se andar de noite, tropeça, porque não tem luz consigo». Dito isto, acrescentou: «O nosso amigo Lázaro dorme, mas Eu vou despertá-lo». Disseram então os discípulos: «Senhor, se dorme, estará salvo». Jesus referia-se à morte de Lázaro, mas eles entenderam que falava do sono natural. Disse-lhes então Jesus abertamente: «Lázaro morreu; por vossa causa, alegro-Me de não ter estado lá, para que acrediteis. Mas, vamos ter com ele». Tomé, chamado Dídimo, disse aos companheiros: «Vamos nós também, para morrermos com Ele». Ao chegar, Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias. Betânia distava de Jerusalém cerca de três quilómetros. Muitos judeus tinham ido visitar Marta e Maria, para lhes apresentar condolências pela morte do irmão. Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, Marta saiu ao seu encontro, enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará». Marta respondeu: «Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?». Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo». Dito isto, retirou-se e foi chamar Maria, a quem disse em segredo: «O Mestre está ali e manda-te chamar». Logo que ouviu isto, Maria levantou-se e foi ter com Jesus. Jesus ainda não tinha chegado à aldeia, mas estava no lugar em que Marta viera ao seu encontro. Então os judeus que estavam com Maria em casa para lhe apresentar condolências, ao verem-na levantar-se e sair rapidamente, seguiram-na, pensando que se dirigia ao túmulo para chorar. Quando chegou aonde estava Jesus, Maria, logo que O viu, caiu-Lhe aos pés e disse-Lhe: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido». Jesus, ao vê-la chorar, e vendo chorar também os judeus que vinham com ela, comoveu-Se profundamente e perturbou-Se. Depois perguntou: «Onde o pusestes?». Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor». E Jesus chorou. Diziam então os judeus: «Vede como era seu amigo». Mas alguns deles observaram: «Então Ele, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito que este homem não morresse?». Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo. Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada. Disse Jesus: «Tirai a pedra». Respondeu Marta, irmã do morto: «Já cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias». Disse Jesus: «Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de Deus?». Tiraram então a pedra. Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste». Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora». O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. Disse-lhes Jesus: «Desligai-o e deixai-o ir». Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria, ao verem o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele.
Palavra da salvação.

EVANGELHO – Forma breve Jo 11, 3-7.17.20-27.33b-45
«Eu sou a ressurreição e a vida»

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele tempo, as irmãs de Lázaro mandaram dizer a Jesus: «Senhor, o teu amigo está doente». Ouvindo isto, Jesus disse: «Essa doença não é mortal, mas é para a glória de Deus, para que por ela seja glorificado o Filho do homem». Jesus era amigo de Marta, de sua irmã e de Lázaro. Entretanto, depois de ouvir dizer que ele estava doente, ficou ainda dois dias no local onde Se encontrava. Depois disse aos discípulos: «Vamos de novo para a Judeia». Ao chegar lá, Jesus encontrou o amigo sepultado havia quatro dias. Quando ouviu dizer que Jesus estava a chegar, Marta saiu ao seu encontro, enquanto Maria ficou sentada em casa. Marta disse a Jesus: «Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, tudo o que pedires a Deus, Deus To concederá». Disse-lhe Jesus: «Teu irmão ressuscitará». Marta respondeu: «Eu sei que há-de ressuscitar na ressurreição do último dia». Disse-lhe Jesus: «Eu sou a ressurreição e a vida. Quem acredita em Mim, ainda que tenha morrido, viverá; e todo aquele que vive e acredita em Mim, nunca morrerá. Acreditas nisto?». Disse-Lhe Marta: «Acredito, Senhor, que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo». Jesus comoveu-Se profundamente e perturbou-Se. Depois perguntou: «Onde o pu­sestes?». Responderam-Lhe: «Vem ver, Senhor». E Jesus chorou. Diziam então os judeus: «Vede como era seu amigo». Mas alguns deles observaram: «Então Ele, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito que este homem não morresse?». Entretanto, Jesus, intimamente comovido, chegou ao túmulo. Era uma gruta, com uma pedra posta à entrada. Disse Jesus: «Tirai a pedra». Respondeu Marta, irmã do morto: «Já cheira mal, Senhor, pois morreu há quatro dias». Disse Jesus: «Eu não te disse que, se acreditasses, verias a glória de Deus?». Tiraram então a pedra. Jesus, levantando os olhos ao Céu, disse: «Pai, dou-Te graças por Me teres ouvido. Eu bem sei que sempre Me ouves, mas falei assim por causa da multidão que nos cerca, para acreditarem que Tu Me enviaste». Dito isto, bradou com voz forte: «Lázaro, sai para fora». O morto saiu, de mãos e pés enfaixados com ligaduras e o rosto envolvido num sudário. Disse-lhes Jesus: «Desligai-o e deixai-o ir». Então muitos judeus, que tinham ido visitar Maria, ao verem o que Jesus fizera, acreditaram n’Ele.
Palavra da salvação.

ORAÇÃO DOS FIÉIS

Caríssimos irmãos e irmãs:
Por Jesus Cristo, vencedor da morte,
oremos a Deus, que é a vida do mundo
e ressuscita os mortos pela força do Espírito,
dizendo (ou: cantando), com fé:
R. Christe, eléison.
Ou: Ouvi, Senhor, as nossas súplicas.
Ou: Cristo, ouvi-nos. Cristo, atendei-nos.
1. Pelos fiéis e pelos pastores da santa Igreja,
para que professem a fé em Jesus Cristo,
que os ressuscitou e lhes deu a sua vida,
oremos.
2. Pelos cristãos que vivem à maneira dos pagãos,
para que o Senhor os arranque dos seus túmulos
e os liberte dos enganos do Demónio,
oremos.
3. Pelos eleitos que se preparam para o Baptismo,
para que, uma vez ressuscitados de entre os mortos,
sejam sempre conduzidos pelo Espírito,
oremos.
4. Pelos doentes, os deprimidos e os moribundos,
para que o mistério da cruz os fortaleça,
os alivie, os reanime e lhes dê esperança,
oremos.
5. Por todos aqueles que entre nós estão de luto,
para que Jesus Cristo, ressurreição e vida dos fiéis,
lhes encha o coração da sua paz,
oremos.
(Outras intenções: acontecimentos nacionais importantes; defuntos …).
S enhor, nosso Deus,
que vencestes a morte e o abismo
ao ressuscitar o vosso Filho,
libertai-nos dos pecados que nos prendem,
pois Vós sois o Deus da Vida.
Por Cristo, nosso Senhor

ORAÇÃO SOBRE AS OBLATAS
Ouvi-nos, Senhor Deus omnipotente,
e, pela virtude deste sacrifício,
purificai os vossos servos
que iluminastes com os ensinamentos da fé.
Por Nosso Senhor.

PREFÁCIO A ressurreição de Lázaro
Quando se lê o Evangelho de Lázaro, diz-se o prefácio seguinte:
V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
V. Corações ao alto.
R. O nosso coração está em Deus.
V. Dêmos graças ao Senhor nosso Deus.
R. É nosso dever, é nossa salvação.
Senhor, Pai santo, Deus eterno e omnipotente,
é verdadeiramente nosso dever, é nossa salvação
dar-Vos graças, sempre e em toda a parte,
por Cristo nosso Senhor.

Como verdadeiro homem,
Ele chorou pelo seu amigo Lázaro;
como Deus eterno,
ressuscitou-o do túmulo;
compadecido da humanidade,
fez-nos passar da morte à vida,
mediante os sacramentos pascais.
Por Ele Vos adoram no Céu os coros dos Anjos
e se alegram eternamente na vossa presença.
Com eles também nós proclamamos na terra a vossa glória,
cantando numa só voz:
Santo, Santo, Santo.
Quando não se lê o Evangelho de Lázaro, diz-se outro prefácio da Quaresma

ANTÍFONA DA COMUNHÃO
Quando se lê o Evangelho de Lázaro: Jo 11, 26
Aquele que vive e crê em Mim
não morrerá para sempre, diz o Senhor.

Quando se lê o Evangelho da mulher adúltera: Jo 8, 10-11
Mulher, ninguém te condenou? Ninguém, Senhor.
Nem Eu te condeno. Vai em paz e não tornes a pecar.
Quando se lê o outro Evangelho: Jo 12, 24-25
Em verdade vos digo: se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dá fruto abundante.

ORAÇÃO DEPOIS DA COMUNHÃO
Deus omnipotente, concedei-nos a graça
de sermos sempre contados entre os membros de Cristo,
nós que comungámos o seu Corpo e Sangue.
Ele que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.

 

Excertos do livro “O inédito sobre os Evangelhos”
de autoria do Mons. João Scognamiglio Clá Dias, E.P.

A ressurreição de Lázaro

O grande amor de Jesus àquela família de Betânia tornava
incompreensível sua aparente indiferença perante a enfermidade de
Lázaro. Mas quando Deus tarda em intervir é por razões mais
altas e porque certamente nos dará com superabundância.

I – Pressupostos

O porquê dos milagres

Ao conceder a um taumaturgo a faculdade de realizar mi­lagres, explica São Tomás, Deus tem por objetivo “confir­mar a verdade por este ensinada”.1 O motivo principal se encontra na fé, pois a razão humana não tem suficiente altura para acompanhar os horizontes dessa virtude, e por isso muitas vezes é necessário serem as afirmações de caráter sobrenatural confirma­das pelo poder de Deus. Esses atos que excedem as forças da natureza propiciam uma acresci­da facilidade em crer na procedência divina de tudo quanto é transmi­tido a respeito de Deus.

Ademais, através dos milagres, torna-se patente a presença de Deus no taumaturgo.

Ora, era indis­pensável ficar claro aos olhos de todos que a doutrina proclamada por Jesus procedia do próprio Deus e, muito mais ainda, propor­cionar a cada um boas provas para crerem na união hipostática das duas naturezas, divi­na e humana, numa só Pessoa. Justamente em face dessa luminosa, magna e fundamen­tal impostação se projeta a narração do Evangelho de hoje.

Prova da divindade de Jesus

São João escreveu seus vinte e um capítulos com a preo­cupação de tornar demonstradas, pelos fatos, tanto a origem di­vina da doutrina de Jesus quanto a onipotência de sua Pessoa. E conforme nos explica ainda São Tomás, os milagres operados pelo Redentor são prova de sua divindade:

“Em primeiro lugar, por sua espécie. De fato, transcen­diam todo o poder criado e não poderiam ser feitos senão por um poder divino. […] Em segundo lugar, pelo modo como fo­ram feitos. Cristo fazia os milagres por um poder próprio, não orando, como outros fizeram”.2

Além de encontrarmos elevados aspectos sobrenaturais através dos quais melhor conhecemos o Salvador em suas duas naturezas, e, assim, mais podemos amá-Lo, nesta narração de São João se confirma seu estro literário. Ela é bela, atraente e comovedora, constituindo-se como única em seu gênero. Con­sagra historicamente os preciosos detalhes do mais importante milagre de Jesus, que Lhe conferiu uma grande glória — levan­do à crença um bom número de judeus —, e, ao mesmo tempo, produziu o máximo grau de ódio nos seus inimigos, a ponto de apressá-los em seus intentos deicidas. Este episódio, tão per­vadido de pulcritude divina e humana, será a causa imediata da fúria do Sinédrio e consequente determinação da morte de Jesus.

A pluma do Evangelista percorre o pergaminho, confir­mando em cada versículo o agudo senso de observação do es­critor, como também tornando patente ter sido ele uma exímia testemunha ocular, digna de fé, de todo o ocorrido. Quem po­deria compor ou imaginar os minuciosos pormenores de vera­cidade transparente, como, por exemplo, as palavras, a emo­ção e as próprias lágrimas do Filho de Deus feito Homem, que fluem com leveza da escrita do Autor Sagrado? É escrupulosa sua fidelidade na transmissão da realidade que pode ser divi­dida em três partes distintas: o retorno de Jesus a Betânia, o encontro e a conversa com Marta e Maria, e a ressurreição de Lázaro.

II – Análise do Evangelho

O retorno de Jesus a Betânia

Naquele tempo, 1 havia um doente, Lázaro, que era de Betânia, o povoado de Maria e de Marta, sua irmã. 2 Maria era aquela que ungira o Senhor com perfume e enxugara os pés com seus cabelos. O irmão dela, Lázaro, é que estava doente. 3 As irmãs mandaram então dizer a Jesus: “Senhor, aquele que amas está doente”. 4 Ouvindo isto, Jesus disse: “Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”. 5 Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. 6 Quando ouviu que este estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde Se encontrava. 7 Então, disse aos discípulos: “Vamos de novo à Judeia”. 8 Os discípulos disseram-Lhe: “Mestre, ainda há pouco os judeus queriam apedrejar-Te, e agora vais outra vez para lá?” 9 Jesus respondeu: “O dia não tem doze horas? Se alguém caminha de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo. 10 Mas se alguém caminha de noite, tropeça, porque lhe falta a luz”.

Para tornar bem claro quem era o enfermo em questão, São João o apresenta como sendo o irmão de Marta e Maria. Ressalta a figura desta última, por se tratar de uma pessoa muito conhecida e comentada em toda Israel, devi­do à sua impressionante conversão e seu belíssimo ato de arre­pendimento em casa de Simão, o fariseu (cf. Lc 7, 37-50). É in­teressante notar o acerto do nome Lázaro que significa ajudado ou Deus socorreu.

Fazia muito que Jesus pregava na região da Pereia, à dis­tância de uma jornada de Betânia. Com enorme solicitude e carinho por Lázaro, tal qual costumam ser as ir­mãs quando de boa índo­le, Marta e Maria enviam um mensageiro para avi­sá-lo do estado de saúde do irmão.

Transparece na ati­tude de ambas um profun­do espírito de fé na onipo­tência do Salvador e, ao mesmo tempo, uma no­bre e fraternal dedicação. Tanto mais que a mensa­gem não era só informa­tiva, mas, com enorme polidez, ela continha uma súplica. A fórmula empre­gada nada tem a ver com a lógica argumentação do centurião romano para obter a cura de seu servo; mais se aproxima ela, em sua essência, da atitude da Virgem Maria nas Bodas de Caná: “Senhor, aque­le que amas está doente”. Segundo Santo Agostinho, esta simples frase contém uma profunda verdade de fé: Deus jamais abandona aquele a quem ama. Elas não imploram nem pedem explicitamente a cura, quer pudesse ser ela operada de perto, ou de longe; era-Lhe suficiente conhecer o estado de seu amado para, por um simples desejo seu, tornar efetivo o milagre.

E, de fato, é o que teria acontecido se Jesus não tivesse querido Se aproveitar do pretexto da morte de seu amigo “para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”, conforme Ele próprio o afirma.

Grande perplexidade devem ter tido ambas ao receberem a resposta do Senhor, dois dias depois do falecimento de Lázaro: “Esta doença não leva à morte”. Maior aflição ainda deveu-se ao fato de Jesus não Se ter movido para Se encontrar com o amigo nem com suas irmãs.

Essa é bem a provação pela qual passam as almas aflitas que imploram a intervenção de Deus e julgam não serem atendi­das, devido à demora ou a uma aparente inércia da parte do Céu. Quão benfazeja é esta passagem para nos convencer a jamais des­crermos da onipotência da oração perfeita! Quando Deus tarda em intervir é por razões mais altas e porque certamente nos dará com superabundância. E aí está o procedimento de Jesus para com aqueles aos quais ama: “Jesus era muito amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro”. O grande amor de Jesus àquela família tornava ainda mais incompreensível sua como que indi­ferença, pois, “quando ouviu que este estava doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava”.

Que grande voo de espírito era necessário para seguir o Divino Mestre diante da incompreensibilidade de suas atitudes! Nenhum dos dois lados chegava a atinar com o alcance da meta política do Salvador. As irmãs deviam estar desmontadas em suas esperanças, acompanhando do lado de fora do sepulcro a lenta, mas progressiva, decomposição do corpo de seu irmão. Os Apóstolos, por sua vez, não podiam entender o porquê da ida de Nosso Senhor à Judeia. Já havia curado tantos necessitados à distância, qual a razão de penetrar numa terra onde era perse­guido de morte? E só por causa de um enfermo? “Mestre, ainda há pouco os judeus queriam apedrejar-Te, e agora vais outra vez para lá?”, diziam eles. Não seria melhor operar o milagre à dis­tância?

A perspectiva psicossocial na qual os discípulos procura­vam delinear a figura do Messias era essencialmente diferente da realidade que se desenrolava diante dos olhos de todos. Neles se encontrava uma constante do espírito humano, a de querer reduzir as ações de Deus às proporções de nossa mentalidade e até mesmo de nossos desejos, sentimentos e emoções. Ora, os princípios pelos quais Deus Se move sempre são infinitamente superiores aos atinentes às meras criaturas; por esta razão nada melhor do que nos abandonarmos aos desígnios e ao benepláci­to de sua vontade, nunc et semper.

Segundo nossos critérios, talvez fosse preferível que Jesus expusesse seu plano com total clareza aos Apóstolos para retor­narem à Judeia com maior confiança, paz e decisão. Pelo con­trário, Jesus lhes responde com uma parábola: durante as doze horas do dia, pode-se caminhar sem tropeço, diz Nosso Senhor, bem ao contrário das outras doze da noite. Tratava-se de uma afirmação óbvia, mas trazendo em suas entrelinhas algum sig­nificado mais profundo, ou seja, não havia chegado ainda o mo­mento de sua Paixão, portanto não era de se temer nenhum mal. Assim, de forma didática e suave, ia instruindo os Apóstolos so­bre os passos a serem dados, exercitando-os na plena confiança que deveriam devotar a seu Divino Mestre.

11 Depois acrescentou: “O nosso amigo Lázaro dorme. Mas Eu vou acordá-lo”. 12 Os discípulos disseram: “Senhor, se ele dorme, vai ficar bom”. 13 Jesus falava da morte de Lázaro, mas os discípulos pensaram que falasse do sono mesmo. 14 Então Jesus disse abertamente: “Lázaro está morto. 15 Mas por causa de vós, alegro-Me por não ter estado lá, para que creiais. Mas vamos para junto dele”. 16 Então Tomé, cujo nome significa Gêmeo, disse aos companheiros: “Vamos nós também para morrermos com Ele”.

Porém, ao acrescentar: “O nosso amigo Lázaro dorme. Mas Eu vou acordá-lo”, deu aos Apóstolos nova esperança de não ser necessário retornar à Judeia pois, segundo a forte expe­riência da época, a retomada do sono ao longo de uma enfermi­dade grave era indício de boa convalescença, e por isso excla­mam: “Senhor, se ele dorme, vai ficar bom”.

Diante dessa situação era indispensável falar-lhes às cla­ras, revelando-lhes a morte de Lázaro. Só este particular já se­ria suficiente para melhor crerem nas propostas de Jesus, pois, até aquele instante, ninguém ali sabia do falecimento de Lázaro, que Ele lhes comunica com toda segurança. E, ademais, aprovei­ta para estimular a confiança dos Apóstolos, manifestando sua alegria pelo fato de eles não terem estado em Betânia durante a enfermidade de Lázaro, pois, nesse caso, Jesus se veria na con­tingência de curá-lo antes de sua morte, diminuindo a grandeza do milagre da ressurreição que iria operar.

Vê-se pela narração o quanto os próprios Apóstolos esta­vam sendo formados na fé, passo a passo, através dos milagres, conforme Ele mesmo afirma: “para que creiais”. Jesus iria selar o término de sua vida pública — os últimos momentos das doze horas do dia — com o mais portentoso milagre. Ele a iniciara com a transformação da água no melhor dos vinhos, em Caná, e agora, antes do anoitecer, traria à vida um morto já em franca decomposição. Nessa ocasião, o mais débil — São Tomé — solta o gemido que estava no fundo da alma de todos: “Vamos nós também para morrermos com Ele”. O Espírito Santo ainda não os confirmara na vocação e o instinto de conservação disputava com as virtudes no interior de cada um.

Encontro com Marta e Maria

17 Quando Jesus chegou, encontrou Lázaro sepultado havia quatro dias. 18 Betânia ficava a uns três quilômetros de Jerusalém. 19 Muitos judeus tinham vindo à casa de Marta e Maria para as consolar por causa do irmão. 20 Quando Marta soube que Jesus tinha chegado, foi ao encontro d’Ele. Maria ficou sentada em casa. 21 Então Marta disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. 22 Mas mesmo assim eu sei que o que pedires a Deus, Ele To concederá”.

Betânia, segundo a própria narração, ficava a menos de 3 km de distância de Jerusalém. Essa propriedade pertencente à família de Lázaro havia sido utilizada por Jesus com frequência, quase todas as vezes que devia ir a Jerusalém, não só por sua pro­ximidade, mas até mesmo pelo conforto. Essa é também a razão de ali se encontrarem muitos judeus. O luto era observado ao lon­go de sete dias, sendo os três primeiros reservados para o pranto e os quatro outros para receber as visitas de pêsames. O costume rabínico era estrito e rigoroso, comportando até mesmo o jejum (cf. I Sm 31, 13), em meio às lágrimas (cf. Gn 50, 10). Em essên­cia, ao retornar do enterro — que, aliás, devia ser no próprio dia do falecimento —, o ritual ordenava cobrir a cabeça e sentar-se ao chão com os pés descalços. As visitas não pronunciavam ne­nhuma palavra, pois essa iniciativa cabia apenas aos parentes dos falecidos. O convívio, nessas circunstâncias, era silencioso.

Assim perma­neceu Maria, por não ter ideia da chegada de Jesus à aldeia, en­quanto Marta foi ao seu encontro a fim de Lhe noticiar todo o ocorrido. Uma vez mais os fatos nos re­velam as caracterís­ticas próprias a cada uma das duas irmãs. Marta é mais dada à administração, às re­lações sociais, etc., e Maria mais ao fervor amoroso. Por tal mo­tivo Marta não avisa sua irmã, pois seria impossível retê-la junto às visitas enquanto se desenrolasse seu diálogo com o Mestre. Aliás, esse diálogo não poderia ter transcorrido com maior ternura e delicadeza. Não há a menor sombra de queixa da parte de Marta ao afirmar: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido”, pelo contrário, trata-se da manifestação de um pesaroso senti­mento feito de confiança no poder de Jesus.

Maria, por sua vez, repetirá pouco depois exatamente essa mesma frase, permitindo-nos perceber o teor das conversas ha­vidas entre ambas naqueles últimos dias.

Entretanto, a fé de uma e outra ainda não havia atingido sua plenitude, pois não podiam imaginar o grande milagre que iria ser operado por Jesus. Marta não tem noção do poder abso­luto de Jesus, e daí o condicionar as ações do Divino Mestre aos pedidos que Ele faça a Deus: “Mas mesmo assim eu sei que o que pedires a Deus, Ele To concederá”.

23 Respondeu-lhe Jesus: “Teu irmão ressuscitará”. 24 Disse Marta: “Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia”. 25 Então Jesus disse: “Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que morra, viverá. 26 E todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá jamais. Crês isto?” 27 Respondeu ela: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que Tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo”.

Marta externa sua firme crença na ressurreição final e nes­sa ocasião espera rever seu irmão em corpo e alma, sem jamais imaginar a possibilidade de reencontrá-lo naquele mesmo dia. Jesus, o Divino Didata, vê chegado o momento de proferir uma das mais belas afirmações do Evangelho. Em outros trechos Ele terá revelado: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6); “Eu sou a Luz do mundo” (Jo 8, 12); “Eu sou o pão da vida” (Jo 6, 35); mas nenhuma atinge a altura teológica desta, em questão: Eu sou a Ressurreição e a Vida. Quem crê em Mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em Mim, não morrerá jamais”. E com uma paternalida­de comovedora pergunta a Marta: “Crês isto?”, para movê­-la a um ato explícito de fé e fazê-la crescer em méritos.

28 Depois de ter dito isto, ela foi chamar a sua irmã, Maria, dizendo baixinho: “O Mestre está aí e te chama”. 29 Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e foi ao encontro de Jesus. 30 Jesus estava ainda fora do povoado, no mesmo lugar onde Marta se tinha encontrado com Ele. 31 Os judeus que estavam em casa consolando-a, quando a viram levantar-se depressa e sair, foram atrás dela, pensando que fosse ao túmulo para ali chorar. 32 Indo para o lugar onde estava Jesus, quando O viu, caiu de joelhos diante d’Ele e disse-Lhe: “Senhor, se tivesses estado aqui, o meu irmão não teria morrido”. 33 Quando Jesus a viu chorar, e também os que estavam com ela, estremeceu interiormente, ficou profundamente comovido, 34 e perguntou: “Onde o colocastes?” Responderam: “Vem ver, Senhor”. 35 E Jesus chorou. 36 Então os judeus disseram: “Vede como Ele o amava!” 37 Alguns deles, porém, diziam: “Este, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito com que Lázaro não morresse?”

O diálogo dera seus melhores frutos, era necessário conso­lar a outra irmã. Marta a avisa “dizendo baixinho” que o Mes­tre chegara. Conforme seu temperamento arrojado, saiu a toda pressa para encontrá-Lo. Seu gesto levou todos os visitantes a imitá-la; imaginando que ela iria chorar junto ao túmulo, segui­ram-na.

Especialmente digna de nota é a cena de seu encontro com Jesus. Marta era mais controlada em suas emoções, determina­da em seus objetivos e, portanto, capaz de expor em palavras to­dos os seus sentimentos. Maria, bem diferente de sua irmã, tem arroubos de fervor sensível pelo Mestre, seu amor não conhece fronteiras e nem permite ser freado em suas manifestações, sua alma seráfica a leva a lançar-se aos pés de Jesus, e o máximo que consegue exprimir é sua dor, em breves termos. De resto era chorar, soluçar, e com tal substância que todos se viram tocados por sua reação, acompanhando-a no pranto.

Maria era tão carismática em sua fé, no ardor de seus de­sejos e na comunicação de sua benquerença por Jesus, que Ele próprio “estremeceu interiormente, ficou profundamente co­movido”. Bem dizia De Maistre: “La raison ne peut que parler, c’est l’amour qui chante!”.3 Nossas palavras podem convencer, mas nosso amor poderá até mesmo tocar o Sagrado Coração de Jesus. Quão humano, sem deixar de ser divino, Ele Se mostra nessa ocasião, sobretudo ao derramar, também Ele, suas precio­síssimas lágrimas, santificando, desta forma, as lágrimas roladas de todos os corações sofredores por amor a Deus ou arrependi­dos de suas faltas.

Era essa a maior prova de amor externada pelo Salvador, até aquele instante, em relação ao seu amigo Lázaro.

Sempre “pedra de escândalo” (Is 8, 14), os campos se dividem em vista de suas lágrimas. Alguns são tomados de ad­miração, outros O recriminam por ter deixado morrer Lázaro. Hipocrisia pura, segundo autores clássicos, pois se põem a julgar Jesus antes mesmo de qualquer ação sua. Esse é o efeito de uma antipatia preconcebida, radicada, talvez, no vício da inveja.

Ressurreição de Lázaro

38 De novo, Jesus ficou interiormente comovido. Chegou ao túmulo. Era uma caverna, fechada com uma pedra. 39 Disse Jesus: “Tirai a pedra!” Marta, a irmã do morto, interveio: “Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias”. 40 Jesus lhe respondeu: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?” 41 Tiraram então a pedra. Jesus levantou os olhos para o alto e disse: “Pai, Eu Te dou graças porque Me ouviste. 42 Eu sei que sempre Me escutas. Mas digo isto por causa do povo que Me rodeia, para que creia que Tu Me enviaste”. 43 Tendo dito isso, exclamou com voz forte: “Lázaro, vem para fora!” 44 O morto saiu, atado de mãos e pés com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano. Então Jesus lhes disse: “Desatai-o e deixai-o caminhar”. 45 Então, muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o que Jesus fizera, creram n’Ele.

Diferentemente de outros túmulos, este de Lázaro era es­cavado em rocha não no sentido horizontal, mas sim, no chão e na vertical. Para se chegar ao local onde haviam depositado o corpo de Lázaro, precisava-se descer um bom número de de­graus. Ao redor do sepulcro, estavam todos em forte expectati­va, pois os antecedentes prognosticavam um portentoso aconte­cimento.

Com magna autoridade, Jesus ordena, para espanto dos circunstantes: “Tirai a pedra!”. Marta, sempre criteriosa, não resiste em ponderar que o cadáver já estaria em decomposi­ção depois de quatro dias. “Senhor, já cheira mal”. Magistral a resposta de Jesus: “Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?”.

Belíssima oração a de Nosso Senhor; com o túmulo já aberto, o mau odor ferindo as narinas dos presentes, a atenção não poderia ser mais intensa. Ele reza não por necessidade, “mas digo isto por causa do povo que Me rodeia, para que creia que Tu Me enviaste”.

Por um simples desejo seu, a lápide teria voltado ao nada e Lázaro surgiria à porta do sepulcro, rejuvenescido, limpíssimo e perfumado. E como era conveniente constar aos olhos de todos a potência de suas ordens, “exclamou com voz forte: ‘Lázaro, vem para fora!’”.

Dois portentosos milagres se operam, não só o da pura ressurreição. Lázaro estava atado da cabeça aos pés, impedido de caminhar; entretanto, subiu pela escada que dava acesso à entrada do túmulo, estando até mesmo com um sudário ao ros­to. Imaginemos a impressionante cena de um defunto subindo degrau por degrau, sem liberdade de movimentos e sem enxer­gar, mas já respirando com visíveis sinais de vida.

“Desatai-o e deixai-o caminhar” é a última voz de comando do Divino Taumaturgo.

Nada mais relata o Evangelista; nenhuma palavra a res­peito de Lázaro ou das manifestações de alegria de suas irmãs; apenas a conversão de “muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria”.

Escapa à Liturgia de hoje a traição de alguns que, segu­ramente indignados, “foram aos fariseus e lhes contaram o que Jesus realizara” (Jo 11, 46), levando o Sinédrio a decretar sua morte (cf. Jo 11, 53), matéria esta considerada com quanta pro­fundidade ao longo da Semana Santa.

III – Um convite à confiança

Aí está o poder de Cristo manifestado em pleno esplen­dor para alimentar-nos em nossa fé. Esta Liturgia nos convida a uma confiança maior que a do centurião romano, ou seja, é preciso crer em Jesus com um ardor marial. Se a Santíssima Virgem estivesse ao lado das irmãs, decer­to — além de lhes aconselhar a aguardarem com paz de alma a chegada de seu Divino Filho — recomendaria a ambas que procurassem fazer “o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). Por maior que sejam os dramas ou aflições em nossa existência, sigamos o exemplo e a orientação de Maria, crendo na onipotência de Jesus, compenetrados das palavras de São Paulo: “todas as coi­sas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios” (Rm 8, 28).

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1) SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q.43, a.1.

2) Idem, a.4.

3) DE MAISTRE, Joseph. Essai sur le principe générateur des constitutions poli­tiques et des autres institutions humaines. Paris: L. Ecclésiastique, 1822, p.19, nota 3.